sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Meu mundo

Eu sempre fui assim, desde pequenininho, um controlador obcecado por fazer as coisas de minha imaginação palpáveis para que as pessoas admirassem. Eu tinha uma imaginação muito fértil e é engraçado que me recordo dos meus 6 anos de idade, tendo sonhos com uma menina que eu gostava, em que a quadra de educação física da minha escolinha se tornava um campo de batalha e, todos vestidos em armaduras medievais, travavam um épico jogo de futebol. E eu sempre fui muito perna-de-pau. Então se juntavam os fatores: a menina que eu gostava, os vilões e o jogador de futebol fantástico, e se tinha um sonho em que eu jogava futebol como um craque, e a garota suspirava por mim enquanto os vilões ficavam fulos da vida. Nada mais clichê que isso.



Sempre criando mundos e histórias, tinha meu irmão como cobaia de todos eles. Por ser mais novo, digamos que sempre brincou comigo e se submetia ao meu mundo e meu julgamento. Só que eu sempre ficava chateado porque os mundos nunca chegavam ao fim. Não por desinteresse meu, mas do meu irmão. Quando estávamos no que eu julgava ser o ápice da história, pra ele já estava chato e queria mudar o tema. E lá ia eu, de novo, criar outro mundo para brincarmos. Eu costumo relacionar esse fato a minha atual sina de nunca conseguir terminar uma história. Acabar parando naquilo que seria o ápice dela e não conseguir mais progredir. Possivelmente não tem nada a ver, mas eu tenho também esse costume de tentar encontrar explicações pra coisas assim. Especialmente quando acontecem comigo.



Talvez por isso eu esteja atualmente ingressando numa faculdade de psicologia. Não porque quero cuidar das pessoas, ou faze-las se sentir melhor. Bem pouco disso. Eu admito, sou um egoísta ingrato e irreparável. Apenas tenho essa sede por conhecer a cabeça das pessoas, criar padrões. Minha doença. Fico pensando se dessa forma seria capaz de fazer alguém feliz. Essa insatisfação com minha natureza que me leva à maior parte das depressões. Porque a vida é confusa e, embora eu seja um monstro, eu queria ser uma pessoa legal, que toma atitudes dignas de um lorde. Eu tento muito, fracasso às vezes e sou usado, eu sofro por isso.

Mas tem mais isso ainda. Com a mania de criar meus mundos e sustenta-los em explicações e teorias, eu não consigo vivenciar o mundo dos outros. Quando tento, acabo ficando alheio a tudo, meio que parecendo uma barata tonta, sem saber o que fazer, o que dizer ou o que responder. Preso ao meu umbigo. Preso àquilo que estava na minha cabeça, o meu mundo. E perceber isso me machuca. Se as pessoas me acham anormal é porque eu realmente ajo anormalmente.



Até porque me entrego facilmente aos medos e regras pra não ser criticado. É tanto esforço que faço para não ser julgado e condenado, que acabo sendo julgado e condenado, e por esse motivo entro num momento de “foda-se”, mandando tudo pra casa do chapéu e explodindo acima da necessidade. Afinal, se estou fazendo tudo pra não incomodar e ainda incomodo, algo está errado. Ou sou eu ou são as pessoas a minha volta. Na hora eu culpo as pessoas. Mas na real eu sei que sou eu. Mais motivo pra depressão.

E são tantos os momentos que entrei nestes conflitos, que os medos só aumentam. É uma bola de neve e os psicólogos não ajudam. Se não eu não pararia de ir para as minhas consultas. Paro porque acho ridículo, eles não me falam nada de que eu já não saiba.



Meu mundo. O que eu faço pra sobreviver a isso? Como sobreviver ao mundo real, aos julgamentos externos? Não sei. Mas tenho prazer em conhecer e construir teses. Por isso achei que psicologia seria um ótimo caminho pra mim. Médico talvez eu nunca me torne. Mas talvez mais um colunista mal amado, postando numa revista de quinta que você, com toda razão, não vai ler.



E fará bem por isso!

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