quarta-feira, 24 de abril de 2013

Uma história sobre um cara

Era uma vez um cara. Ele era legal, agradável, divertido na medida do possível. Ele pensava demais, e a maior parte do tempo estava sozinho. Ele só queria um amor, alguém pra acompanha-lo, pra dividir aqueles momentos em que não queria mais estar sozinho. Ele não queria muita gente, queria só aquela, especial, sua escolhida, pra dividir com ela os sabores e dessabores de suas vidas. Pra superarem o antes, fazendo de todo o agora um novo momento melhor que o outro. Sabia que era ideal demais, sabia que haveria dores e partidas. Mas mesmo delas sentia falta, nada disso existia em sua vida. Então ele procurou, ele lutou, buscou e caiu. Levantou num susto e viu algo diferente, pensou que a busca podia acabar. Se aproximou. Então percebeu que sua escolhida não o escolhia. E caiu. Levantou outro dia, cuidou dela, mas ela não o queria. Ele caiu de novo. Levantou noutro dia, escutou que podiam haver outras, que a vida é múltipla e muitas pessoas especiais ainda passariam por sua vida. E assim foi, ele continuou buscando, e a sorte, se assim pudermos chama-la, confirmou a profecia. Mas esse cara tinha um problema, ele não dizia de sua escolha, ele esperava ser percebido e igualmente escolhido pela escolhida. Foi então que o disseram " as pessoas não leem mentes, muitas vezes elas temem, você devia declarar sua escolhida". E assim ele fez e caiu outra vez. Ergueu do chão, limpou as mãos, e outra conheceu. Não sabia mais se dizia ou não dizia, por fim caiu outra vez. E foi caindo. As vezes num tropeço, as vezes numa armadilha. Até que de tanto cair seu corpo já não respondia. Olhava a volta, algo para se apoiar, uma mão para o levantar e nada via. Na longínqua distancia, nesta hora, pode enxergar uma aura viva, cor dourada, meio colorida. Não respondiam suas pernas, seu corpo no chão residia, mas então com o resto de suas poucas forças arrastou-se com os braços em direção à luz colorida. Aos poucos se aproximava, e sua angustia e ansiedade quase o matavam, pois poderia partir dali aquela aura e nada mais o restaria. E ele a alcançou. Seus olhos brilharam no contato com os olhos que nos seus refletia. Era um anjo, nada mais propício ou esperado para que fosse então escolhida. O anjo lhe retribuiu um sorriso doce e sereno e a mão estendeu. Sentiu-se envergonhado, quis pegar a mão, mas o orgulho o impedia. Tentou levantar sozinho, mas não conseguia. Então ouviu na distancia uma voz masculina. Os olhos do anjo desviaram e sua mão ela retornou, olhando na direção que partiria. Como se não percebesse mais a presença do cara, correu ao chamado, sem pensar duas vezes, passou por cima... A este ponto nem cair mais ele podia. Neste momento nada mais fazia sentido em sua vida. Ali ficou. Pelo local muitos passaram e o viram. Alguns cuspiam, outros riam, de uns via o semblante do desprezo, de alguns a pena que não queria. Sermões de alguns escutava todo dia, que devia levantar, que era só querer pra se erguer, mas nenhum destes perguntou porque daquela maneira seu corpo jazia. Um dia uma ponta afiada foi deixada ao seu lado, prometida que assim que a usasse livraria-o desta vida. Bastava querer. E a este ponto o cara não sabia mais o que queria. Ele esticava um dedo, arrastava o braço, mas seu corpo mal respondia. Ele tinha ao seu lado a morte, e do outro seu orgulho, seu ideal, e as histórias que escutou em sua vida. Ele não sabia nem porque vivia, nem porque não morria. A ponta em sua mão juntou ao peito, mas não furou tudo. No fundo, sem saber, sabia que queria a vida. Foi então que um braço o ergueu. Não era a escolhida, mas deu o força e o inspirou sentido pra existir. Escutou histórias, experiências, verdades que antes nunca ouvira. Depois ouviu que devia partir e viver pelo menos o que restava de sua vida. Outras pessoas o disseram que devia esquecer essa história de escolhida, que devia aceitar ser escolhido. Mas percebeu nas escolhas alheias o reflexo de tudo que havia passado até então. Não podia aceitar fazer mal a alguém fingindo amor que não sentia. O ódio que antes nutriu pelas que o derrubaram, agora desaparecia. Juntou todas as histórias que havia ouvido em vida. Buscou todos os conselhos que podia. Duas muletas firmes ele arrumou e partiu de novo em busca da escolhida, mas agora sobre as muletas que se apoiava sua vida. Ainda não encontrou a pessoa, sabe que não é certa, e também nunca foi uma exigência sua. Ele continua de vez em quando caindo, levantando, se equilibrando, às vezes com ajuda, às vezes sozinho. No fundo ele só quer a encontrar. No fundo ele nutre esperança. No fundo eu só quero a vida.