quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A Valsa

Tu, ontem
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues
Não mintas...
- Eu vi!...

Valsavas:
- Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P’ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
Não mintas!...
- Não negues,
- Eu vi!...

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Rio - 1858 (Casimiro de Abreu)


Um tanto quanto vingativo. Mas belo.
Tenho um poema com formatação semelhante. Escrevi bem antes de saber da existência deste. Se quiserem ler, só clicar aqui.

Agradecimentos ao yuri, que me mostrou esse poema.

José Marques Casimiro de Abreu, (1839-1860) era um menino novo, que fazia suas vontades sem se preoculpar com muita coisa. Era contra a vontade de seu pai de fazer Direito. Casimiro escrevia poesias lindas para saarais quando se apaixonou e resolveu se casar, ficando noivo, quando ainda tinha 16 anos. Ocorrendo então uma discussão com seu pai, e decide por sua vez fazer a vontade deste, porém deixa claro a sua partida que somente voltaria para morrer, deixando para trás sua noiva e família. Não sendo sua vontade de estudar Direito, resolve entrar na vida bohemia, e acaba pegando tuberculose, assim volta para casa para tratar-se. Morre ao escrever sua ultima poesia aos 22 anos, nessa que por sua vez fica cheia de sangue, jura fidelidade eterna a sua noiva.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casimiro_de_Abreu

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